ECOMONTADO XXI

Em síntese

A perda de vitalidade e produtividade verificadas nos ecossistemas de montado tem como causas uma gestão e utilização ineficientes da água e do solo, com perda de solo nas áreas de montado, acompanhados de um agravamento desta dinâmica devido às alterações climáticas.

O projecto ECOMONTADO XXI pretende estudar a implementação de uma nova prática de gestão florestal com vista à recuperação do ecossistema montado utilizando técnicas de restauro dos ecossistemas resultantes dos conceitos de Permacultura e Agroecologia, nomeadamente o sistema de planeamento em Keyline, para uma gestão integrada dos recursos solo e água.

O que é o sistema Keyline?

Trata-se de uma forma de planeamento desenvolvida nos anos 50 por um engenheiro de minas australiano – Percival Alfred Yeomans com o objectivo de reabilitar solos agrícolas degradados, secos e sazonalmente sujeitos a fogos florestais. Este sistema permite conservar a água da chuva que cai numa propriedade, distribuindo-a no interior do solo e conduzindo-a, progressivamente, das zonas de vale para as zonas de cumeada. Desta forma aumenta-se a taxa de infiltração enquanto se reduz o escoamento superficial e a evaporação, possibilitando uma melhoria significativa da fertilidade e estrutura dos terrenos. Ao melhorar a distribuição da humidade no solo a actividade biológica é promovida aumentando significativamente o teor total da matéria orgânica.

O sistema Keyline é desenhado num terreno de acordo com a sua topografia e todas as actividades agrícolas, distribuição das culturas, localização das barragens, zonas de regadio, caminhos e vedações deverão ser subordinados ao desenho definido. O sistema de Keyline resulta num conjunto de linhas desniveladas relativamente às curvas de nível, possibilitando que a água da chuva escorra naturalmente dos vales para as zonas de cumeada. Desta forma, o solo fértil transforma-se no método mais económico para armazenar água.

No sistema Keyline considera-se errónea a crença de que a criação de solo é um processo infinitamente lento e que uma vez perdido não pode ser recuperado. Na verdade a fertilidade do solo e mesmo o próprio solo pode ser, frequentemente, criado mais rapidamente do que a velocidade à qual é erodido.

Uma vez implementado, o sistema Keyline elimina a erosão do solo e permite fixar elevadas quantidades de carbono. A inversão das camadas do solo não é praticada no Keyline sendo contrária às práticas de construção da fertilidade do solo em qualquer parte do mundo.

O arado de Yeomans:

Foi desenvolvido para fazer pequenos túneis no interior do solo segundo a orientação das Keylines. O seu trabalho possibilita algum arejamento do solo mas não provoca o seu reviramento ou a mistura de horizontes pelo que a matéria orgânica existente não é sujeita às elevadas taxas de mineralização que ocorrem no nosso clima.

A profundidade de trabalho deste arado deverá ser de cerca de 5 centímetros abaixo das raízes das plantas já instaladas para que os canais de arejamento criados sejam rapidamente colonizados pelas mesmas e o arejamento não se perca, ao mesmo tempo que a planta encontra condições para o seu desenvolvimento adequado. O seu trabalho pode ser acompanhado por sementeira directa e também pela aplicação de chorumes ou biofertilizantes.

 

Os ferros do arado devem ter uma distância de 40 a 60 centímetros entre eles de forma a reduzir e perturbação e evitar a separação do solo em camadas horizontais. A sua passagem é feita nos meses de Maio/Junho e Outubro/Novembro.

O resultado do seu trabalho é a manutenção da humidade do solo por períodos maiores nas cumeadas, a diminuição do encharcamento nas baixas, permitindo o desenvolvimento dos organismos do solo por um período mais longo relativamente ao trabalho de outros equipamentos de arejamento e mobilização do solo. Na pastagem observa-se um maior número de gramíneas perenes.

Em algumas situações o arado de Yeomans tem sido substituído por um subsolador adaptado. O trabalho deste equipamento perturba um pouco mais o solo, e mais quanto maior for a velocidade de trabalho, mas possibilita a mesma distribuição da água pelo terreno. A dificuldade na utilização do arado de Yeomans reside no facto de a empresa que procede à sua distribuição ser de origem australiana dificultando tanto a sua aquisição como a aquisição de peças. No entanto existem alguns destes equipamentos em Portugal e Espanha que podem ser alugados. 

O Keyline e a redução de cheias:

Uma vez que os terrenos agrícolas se situam, invariavelmente, em bacias hidrográficas, se o escoamento da água for reduzido nas bacias primárias e secundárias, mais elevadas em cota, através da aplicação do sistema Keyline nas explorações e construção de barragens agrícolas, será mais fácil evitar problemas de inundações nas cotas mais baixas.

Ao mesmo tempo evita-se a erosão e a correspondente perda de fertilidade dos solos enquanto se evita o assoreamento das grandes albufeiras a cotas mais baixas.

O Planeamento do Sistema Keyline e a “Escala de Permanência”:

Ao planear a instalação do sistema de Keyline na exploração são considerados diversos factores e a maior facilidade ou dificuldade que existe em alterá-los. Assim a “Escala Keyline de Permanência Relativa para a Agricultura” é a seguinte:

 

  • Clima
  • Paisagem/relevo
  • Água
  • Estradas
  • Árvores
  • Casas e edifícios principais
  • Divisão das parcelas
  • Solo